Compulsões: muito mais do que falta de controle
- Maria Luísa

- 18 de jun.
- 2 min de leitura
Atualizado: 21 de jun.
Vivemos em uma época marcada pela velocidade e pela necessidade constante de fazer, produzir, consumir e preencher todos os vazios. Muitas vezes, nos vemos repetindo comportamentos, comer além do necessário, comprar por impulso, buscar prazer sem real envolvimento, sem entender exatamente por quê. Comportamentos que muitas vezes sabemos que não nos fazem bem, pelo contrário, sua repetição acaba trazendo ainda mais sofrimento. Chamamos isso de compulsão.
O que está por trás desses impulsos?
A compulsão não é apenas um excesso (prejudicial) de comportamento. Ela é, sobretudo, um pedido silencioso do nosso mundo interno. Quando não conseguimos nomear ou acolher certas emoções (como dor, solidão, silêncio ou vazio) elas podem se tornar insuportáveis. É nesse ponto que o corpo e a psique tentam encontrar saídas que aliviem o incômodo, mesmo que temporariamente. Repetimos gestos, padrões e atitudes como uma forma de proteção contra algo que ainda não conseguimos enfrentar.
O mecanismo compulsivo não nasce da fraqueza ou da falta de força de vontade, mas da tentativa inconsciente de elaborar o que ainda não pôde ser sentido, compreendido ou simbolizado. É uma maneira que o psiquismo encontra de sobreviver ao que é sentido como demais.
Na psicoterapia, especialmente na abordagem junguiana, buscamos escutar essas repetições com atenção e profundidade. O que a compulsão está dizendo que ainda não foi dito? O que está tentando ser expresso por meio desse excesso?
A escuta profunda permite que o sintoma vá se transformando. À medida que damos lugar ao que antes era evitado, a compulsão vai perdendo sua força, pois não precisa mais gritar para ser ouvida.
É comum que, quando estamos desconectados do nosso mundo interno, procuremos fora o que sentimos faltar por dentro. As coisas, pessoas ou experiências que buscamos compulsivamente muitas vezes carregam uma fantasia de completude. No entanto, o que buscamos com tanta urgência raramente está no que se consome, mas no que se representa simbolicamente: o desejo de voltar a si, de habitar de novo o próprio mundo interno.



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